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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Contos de fadas e contos maravilhosos

   


       Fadas, bruxas, príncipes, reis, rainhas, duendes e criaturas falantes fazem parte do universo mágico que compõe as narrativas maravilhosas. Estas narrativas são oriundas da imaginação coletiva e foram  transmitidas através da tradição oral e ainda se perduram lançando seus encantos não só ao público infantil, tido como público alvo, mas também aos leitores  adultos, como assinala Coelho (1987):

A visão mágica do mundo deixou de ser privativa das crianças, para ser assumida pelos adultos. A bela Adormecida, Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho e mil e outras narrativas maravilhosas ainda terão algo a nos dizer? Sem dúvida que sim. O que nelas aparece apenas “infantil”, divertido ou absurdo, na verdade carrega uma significativa herança de sentidos ocultos e essenciais para a nossa vida.   ( COELHO, 1987:9)
       
         E qual é o segredo da perenidade das narrativas maravilhosas?  Mais do que simples estórias de encantamento, essas narrativas representam, simbolicamente, temas profundos, questões existencialistas e as mesmas inquietações e desejos do homem atual, transcendendo, portanto, épocas e culturas diferentes. Das formas de narrar, o  Conto de fadas e o Conto maravilhoso são as mais salientes e possuem semelhanças tão grandes entre si que costumam ser confundidas. Há, porém, diferenças significativas entre ambos.
          A partir da origem notam-se as diferenças; enquanto o Conto de fadas  tem origem celta, o Conto maravilhoso tem origem oriental. O  primeiro  pode ter ou não a presença de fadas, mas obrigatoriamente deve ter elementos feéricos. Outra distinção muito significativa, segundo COELHO (1987), é o núcleo problemático, que no Conto de fadas caracteriza-se pela busca do herói pela realização pessoal marcada pelo teor existencialista. Nessa busca, o herói enfrenta adversidades e contratempos, e recebe, na maioria das vezes, o auxílio de uma fada para alcançar seu ideal, o amor. O termo fada vem do latim fatum que significa destino, fado. Sendo assim, atuam como mediadoras  intervindo no destino do herói ou da heroína. Há fadas que podem dificultar a trajetória do herói são comumente conhecidas como bruxas.  A dualidade entre o bem e o mal é outro aspecto importante do Conto de fadas. Nessa batalha, o bem sempre vence o mal, o que indica o conteúdo moralizante dos contos. 
         Por sua vez, os Contos maravilhosos apresentam a problemática da tentativa de ascensão social, realização exterior, segundo COELHO (1987). Nesses contos, o protagonista ou o antagonista partindo da pobreza tenta ascender socialmente e na busca por riquezas acontecem as venturas e desventuras. É importante salientar que as fadas não integram o universo maravilhoso desses contos, outros elementos mágicos estão presentes (duendes, animais e objetos falantes, entre outros).

PERRAULT E OS IRMÃOS GRIMM 

        Nascidas da tradição oral, as narrativas maravilhosas foram coletadas, transcritas e adaptadas. Charles Perrault foi o responsável por adaptar para o público infantil as histórias que antes eram direcionadas para os adultos.  Para COELHO (1987), a intenção de Perrault não era apenas recriar estórias para as crianças:
A partir daí Perrault volta-se inteiramente para essa redescoberta da narrativa popular maravilhosa , com um duplo intuito; provar a equivalência de valores ou de “sabedoria” entre os Antigos greco-latinos e os Antigos nacionais, e , com esse material redescoberto, divertir as crianças, principalmente as meninas, orientando sua formação moral. (COELHO, 1987: 68)

           Em 1697, Perrault publicou a obra que é considerada  o marco do nascimento da literatura infantil,  Contos  da Mãe Gansa. É composta por oito contos  A Bela Adormecida no bosque, Chapeuzinho vermelho, O Barba azul, O Gato de botas, As fadas, A Gata Borralheira, Henrique do Topete e O Pequeno Polegar, sendo seis contos de fadas e dois contos maravilhosos, todavia, sem essa distinção “Mas naquele momento, não havia distinção de espécie entre eles. Eram todos igualados como histórias e contos do passado , que ficaram famosos como Contos da Mãe Gansa.”  (COELHO, 1987: 69)
           O trabalho dos Grimm é o enfoque da presente pesquisa. Folcloristas, filólogos e estudiosos da língua e mitologia germânica, Jacob e Wihlem Grimm foram alemães que se preocuparam em estudar a língua e o folclore alemão. Para embasar  seus estudos lingüísticos, os Grimm coletaram narrativas maravilhosas, lendas, fábulas diretamente da tradição oral 

                     Duas mulheres teriam sido as principais testemunhas de que se valeram os Irmãos Grimm para essa homérica recolha de textos: a velha camponesa Katherina Wieekmann, de prodigiosa memória,  e Jeannette Hassenpflug, descendente de franceses e amiga íntima da família Grimm.” (COELHO, 1987: 73)

   Depois de transcrito e adaptado, esse material  resultou na obra intitulada Contos de fadas para crianças e adultos (Kinder und Hausmaerchen).
          Os irmãos Grimm deram uma nova roupagem às narrativas maravilhosas, uma roupagem desprovida da violência que havia nos contos de Perrault. Como bem assinala COELHO (1987), a violência presente nas estórias de Perrault deu lugar a um humanismo resultante do Romantismo em voga na época. Apesar dessa patente distinção entre os contos de Perrault e dos Grimm, possuem algumas semelhanças , principalmente fundo comum das fontes orientais, célticas e européias, de onde surgiram (COELHO, 1987: 75). Da ampla coletânea de contos e fábulas dos irmãos Grimm , muitos contos se destacam como Os sete Anões e a Branca de Neve, A Bela Adormecida, O Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira, Os músicos de Bremen, entre outros. 

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